25/08/2013
A
investigação experimental dos átomos, no início do século XX, provocou
resultados sensacionais e totalmente inesperados. Ao invés de partículas duras,
sólidas, como eram consideradas pela teoria consagrada pelo tempo, concluiu-se
que os átomos consistem em vastas regiões de espaço, onde partículas
extremamente pequenas- os elétrons- se movimentam em redor do núcleo. Alguns
anos depois, a teoria quântica deixou claro que mesmo as partículas
subatômicas- os elétrons, prótons e nêutrons no núcleo- não se pareciam em nada
com os objetos sólidos da física clássica.
Essas
unidades subatômicas da matéria são entidades muito abstratas e têm um aspecto
dual. Dependendo do modo como as observamos, apresentam-se ora como partículas,
ora como ondas; e essa natureza dual também é apresentada pela luz, partículas
ou de ondas eletromagnéticas.
Uma
análise cuidadosa do processo de observação na física atômica mostra que as
partículas subatômicas carecem de significado como entidades isoladas e somente
podem ser entendidas como interconexões, ou correlações, entre vários processos
de observação e medição.
É assim
que a física moderna revela a unicidade básica do universo. Mostra-nos que não
podemos decompor o mundo em unidades ínfimas com existência independente.
Quando penetramos na matéria, a natureza não nos mostra quaisquer elementos
básicos isolados, mas apresenta-se como uma teia complicada de relações entre
as várias partes de um todo unificado.
Na
teoria quântica, eventos individuais nem sempre têm uma causa bem definida. Por
exemplo, o salto de um elétron de uma órbita atômica para outra, ou a
desintegração de uma partícula subatômica, podem ocorrer espontaneamente sem
terem sido causados por qualquer evento. Nunca podemos predizer quando e como
tal fenômeno vai acontecer; apenas podemos predizer sua probabilidade. Isso não
significa que eventos atômicos aconteçam de um modo completamente arbitrário;
significa apenas que não são devidos a causas locais.
As
semelhanças evidentes entre a estrutura da matéria e a estrutura da mente não
nos devem surpreender muito, uma vez que a consciência humana desempenha um
papel fundamental no processo de observação e, na física atômica, ela
determina, em grande medida, as propriedades dos fenômenos observados. Esse é
outro importante insight da teoria quântica, suscetível de ter consequências de
longo alcance.
Na
física atômica, os fenômenos observados só podem ser entendidos como correlação
entre vários processos de observação e medição e o fim dessa cadeia de
processos reside sempre na consciência do observador humano. A característica
fundamental da teoria quântica é que o observador é imprescindível não só para
que as propriedades de um fenômeno atômico sejam observadas, mas também para
ocasionar essas propriedades.
A
concepção do universo como uma rede interligada de relações é um dos dois temas
tratados com maior frequência na física moderna. O outro tema é a compreensão
de que a rede cósmica é intrinsecamente dinâmica. Sempre que uma partícula
subatômica está confinada a uma pequena região do espaço, ela reage a esse
confinamento movendo-se por toda a região. Quanto menor for a região de
confinamento, mais rapidamente a partícula se “agitará” nela.
Esse
comportamento é um típico “efeito quântico”, uma característica do mundo subatômico
que não tem analogia na física macroscópica: quanto mais confinada estiver uma
partícula, mais rapidamente ela se movimentará. Essa tendência das partículas a
reagirem ao confinamento com movimento implica um “estado de agitação”
fundamental da matéria, que é característico do mundo subatômico. Nesse mundo,
a maioria das partículas materiais está confinada; elas estão presas às
estruturas molecular, atômica e nuclear; não estão, portanto, em repouso, mas
possuem uma tendência inerente para se movimentarem. De acordo com a teoria
quântica, a matéria está sempre se agitando, nunca está imóvel.
Na
medida em que as coisas podem ser descritas como sendo feitas de componentes
menores-moléculas, átomos e partículas, esses componentes encontram-se em um
estado de contínuo movimento. Macroscopicamente, os objetos materiais que nos
cercam podem parecer passivos e inertes; porém, quando ampliamos um pedaço
“morto” de pedra ou metal, podemos ver que nele há grande atividade.
Dentro
dos átomos vibrantes, os elétrons estão ligados aos núcleos por forças
elétricas que tentam mantê-los, tanto quanto possível, próximos uns dos outros,
e eles respondem a esse confinamento turbilhonando de forma extremamente
rápida. Nos núcleos, finalmente, os prótons e os nêutrons são comprimidos pelas
poderosas forças nucleares até constituírem um minúsculo volume correndo. Por
conseguinte, de um lado para outro a velocidade inimaginável.
Assim,
a física moderna representa a matéria não como inerte e passiva, mas num estado
de contínuo movimento dançante e vibratório, cujos modelos rítmicos são
determinados pelas configurações moleculares, atômicas e nucleares. Acabamos
por compreender que não existem estruturas estáticas na natureza. Existe
estabilidade, mas esta estabilidade é a do equilíbrio dinâmico e, quanto mais
penetramos na matéria, mais precisamos entender sua natureza dinâmica, a fim de
compreendermos seus modelos.
Essa
penetração no mundo de dimensões submicroscópicas é atingida no estudo de
núcleos atômicos, nos quais as velocidades de prótons e nêutrons são
frequentemente tão altas que se aproximam da velocidade da luz.
A
teoria quântica mostrou que as partículas subatômicas não são grãos isolados de
matéria, mas modelos de probabilidade, interconexões numa inseparável teia
cósmica, que inclui o observador humano e sua consciência.
Na
física moderna, a imagem do universo como uma máquina foi transcendida por uma
visão dele como um todo dinâmico e indivisível, cujas partes estão
essencialmente inter-relacionadas e só podem ser entendidas como modelos de um
processo cósmico.
( Esses
são os ensinamentos de Fritjof Capra, no livro “O ponto de mutação”.)
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