16/02/2014
Um dia,
me perguntaram pra que servem as pedras...
Eu era
um Monge, um senhor. E durante muito tempo da minha vida, eu carreguei pedras.
Não no sentido literal, dos contos e das palavras dos sábios. Mas, carreguei
pedras porque eu trabalhava na construção de um Templo.
E os
Templos antigos não eram construídos com a ajuda de nenhum artefato mecânico
como tem hoje. Os Templos antigos eram construídos por pessoas, por pequenos
aparelhos que nós conseguíamos fazer.
Só que
eu já era um homem mais velho... E quem me perguntou era uma criança. E eu
olhei pra ele, já tinha dentro de mim, a sabedoria do silêncio.
Mas, eu
era apenas um Monge. Eu não era um Professor. Eu era um homem cansado, porque
foi um trabalho muito duro.
Porque
ainda, que eu tivesse escolhido o caminho do Monastério, do abandono dos bens
materiais, da renúncia e dos estudos espirituais... Esse Templo era algo que se
esperava muito naquela região. Então, todos que entravam para o Monastério eram
obrigados, ou melhor, convidados, ajudar a erguer aquelas paredes.
Então,
ali se misturavam pessoas que tinham um bom coração, pessoas que tinham alguma sabedoria,
que vinham de famílias mais ricas, uns poucos que sabiam ler... E todos os
outros analfabetos. Uma grande mistura.
E no
fim todos se igualavam, levantando pedras, carregando entulho, subindo
paredes... Às vezes arriscando a própria vida. Porque nem sempre, as técnicas
de construção eram adequadas, então, os muros se mostravam frágeis. E, vez por
outra, até morriam amigos e colegas nosso.
E
quando aquela criança me perguntou pra que serviam as pedras... Um impulso
muito negativo dentro de mim queria dizer que o mundo era feito de pedras. Que
as ruas eram feitas de pedras, que as montanhas eram feitas de pedras, que as
casas eram feitas de pedras e que as pedras eram assim...
Na
verdade, esse meu impulso era um impulso pesado e eu não queria dar explicação
nenhuma. Porque eu achava que já era tão evidente e eu já estava tão cansado.
Só que
o silêncio, se tornou na minha vida um bom companheiro. E no mesmo momento em
que eu queria descartar a presença daquela pessoa, daquela criança e dar uma
resposta qualquer, como eu faria por impulso... Eu me detive um pouco e resolvi
pensar o que faria bem a aquela criança ouvir.
E eu,
naqueles segundos pensei em mim mesmo, como criança, e em todos os sonhos que
eu havia construído: ter uma boa casa, ter um espaço grande para estar com a
minha família, ter condições de ter coisas bonitas, como todo mundo pensa.
Quando
jovem, eu fui ambicioso. Eu queria aquelas coisas que o dinheiro poderia
comprar, eu queria ter os bens para aproveitar as condições da vida
Mas,
veio o destino, que a princípio não se pareceu como um grande amigo. E os meus
caminhos mudaram e eu acabei nesse Monastério. Carregando pedras.
E
aquela pergunta tão simples, talvez tenha me pego num dia onde eu estivesse
mais reflexivo, me levou a muitos pensamentos.
E eu
fiquei pensando:
Pra que
serviam as pedras?
Complicar
o nosso caminho?
Dificultar
os nossos passos?
Pedras
como palanques, que deveríamos vencer, ganhar, lutar, superar?
Segurar
na mão e atirar em alguém?
E aí, o
tempo foi passando e os olhos da criança já não tinham mais tanta paciência
para me ouvir. Afinal de contas, era uma pergunta simples.
E, eu
respondi pra ele: Que pra mim, as pedras serviram pra levantar aquela
edificação. Pra construir aquele Templo. E que quando elas se juntaram, elas
fizeram uma bela parede da sala de oração.
Resolvi
segurar as mãos daquele menino e ser mais gentil. Caminhei com ele, mostrei
onde eu tinha passado todos os anos da minha vida. As paredes que eu tinha
erguido...
Fui
lembrando, das coisas que eu fiz, das pessoas que conheci, dos amigos que tive,
das brigas... E ele foi se encantando com as pequenas coisas que já tinham sido
colocadas naquele Templo, com o barulho do sino, com as vestes dos meus irmãos
e companheiros.
Ele era
criança. E tinha olhos pra tudo. Olhos que eu já não tinha mais há quanto
tempo. Porque, eu estava focado no meu trabalho, nos meus compromissos,
resoluto no meu silêncio e cansado.
E
quando ele foi embora, brincando, correndo... Eu agradeci, mentalmente, a
oportunidade da pergunta. Porque ali eu olhei pra mim mesmo, pensei nas minhas
coisas e entendi que um homem velho, um homem que já passou por tantas
experiências, não deve colocar amargura em suas palavras.
E
fiquei feliz, porque vi que eu não fiz isso. Que eu soube pensar, refletir...
Vi quantas coisas que a vida me trouxe, mesmo me oferecendo tão pouco. Porque
eu passei a minha vida inteira naquele Templo.
Eu
quero chamar a atenção de vocês hoje, pra que vocês observem o Templo de vocês:
Qual é
a casa que vocês estão construindo?
E aqui
eu não me refiro, a casa, no mundo objetivo. Eu falo do Templo que vocês
constroem a sua volta.
Como
vocês enxergam as pessoas? Como vocês enxergam a própria vida?
O seu
trabalho? A sua profissão? Os amigos? Os familiares?
Como
são as suas pedras?
Como
vocês lidam com as dificuldades que surgem e com as frustrações dos desejos não
realizados?
E se
hoje aparecesse na frente de vocês, uma criança, e lhes perguntasse: Pra que
servem as pedras?
Quais
seriam as idéias que iriam surgir em suas mentes? Quais seriam os pensamentos?
Vocês
seriam ferinos com as palavras? Iriam falar qualquer coisa de qualquer jeito?
Pensem,
nos Castelos, nas paredes, nos Templos que vocês estão construindo ao seu
redor.
A Chama
Amarela, a qual eu sirvo, é a Chama da Sabedoria. E está sustentada pelo
silêncio, pela paciência, porque esses são os alicerces, essas são as vibrações
que fortalecem vocês.
As
coisas do mundo objetivo, ora vem e ora sai da vida de vocês. Mas, vocês
continuam como vocês. Vocês continuam tendo que conviver com o seu coração, com
os seus anseios e com as suas idéias. Então se permitam ser firmes na fé, mais
abertos e leves, como uma criança.
Não se
escondam atrás das paredes de mágoas e de frustração. E nem esperem que Mundo
lhes ofereça de retorno, a felicidade em todos os seus empreendimentos.
A
fortaleza da fé é a base pra manifestação de todo um mundo de alegria e de
realização.
Eu Sou
Lanto. E gosto, imensamente, de compartilhar com vocês as experiências do meu
caminho. E digo que foi uma experiência muito interessante ser Lanto, me tornar
Lanto.
Porque
foram muitas vidas, onde eu aprendi observar as pequenas coisas, os pequenos
atos do meu dia, os pequenos acontecimentos da minha encarnação.
Em
muitos desses pequenos atos, eu tive grandes aprendizados. Porque os olhos
espirituais é que expandem a paisagem da vida.
Recebam
as minhas Bênçãos e o meu Amor.
Sigam
em Paz.
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